Olá! Eu sou o Chico Canella e essa é Um bom dia para uma boa semana! Uma newsletter quase semanal sobre temas quase cotidianos.
Chegou o ano novo e “hoje é um novo dia de um novo tempo que começou”. Todos nossos sonhos serão verdade? O futuro já começou? Quantos projetos, novos hábitos e promessas são feitas e aguardam esse recomeço? Pulamos sete ondas, fazemos simpatia e colocamos um peso nessa mudança. Mas será que a gente tá fazendo certo? Será que existe certo? Certamente essas são perguntas bem pertinentes.
O jovem místico que habita em mim tem a necessidade de acreditar que existe sim diferença nessa mudança de ciclo. Não por conta dos planetas, quem tá retrógrado ou pra frentex, até porque não entendo muito disso, mas sim por conta da intenção acumulada. Num momento chave de Dragon Ball, Goku pede ao povo da Terra que levantem suas mãos para ajudá-lo em um golpe deferido contra um inimigo. Essa vibração coletiva, essa união da intenção acumulada dá mais poder ao herói na sua empreitada. E acredito no surfar nessa energia. Por exemplo, (de novo) dia 2 de fevereiro não é dia de Yemanjá, mas a gente vai pra perto do mar, fala de Janaina, fala de mãe, pedimos. Nossa Senhora dos Navegantes não é a Orixá, mas pela intensão acumulada, acaba “sendo”. O que quero dizer com isso tudo é que muitas intenções pairam sobre a virada do ano e que isso realmente potencializa as possibilidades.
Bom, eu comecei esse texto como se vocês estivessem me lendo semanalmente durante o ano de 2024. Porém sabemos que isso não é verdade e que mais uma vez esse canal teve um hiato nas suas postagens. E olha só que “curiosidade” na primeira semana útil desse ano num apareceu um texto novo? Será que estou me aproveitando dessa intenção (ou intensão) acumulada? Não quero aqui mais uma vez falar de altos e baixos, de variações de humor ou de crises e não crises. Acho que dessa vez foi um pouco de saco cheio mesmo. Ou um pouco de tudo. Mas esse ano tudo vai ser diferente. rsrsrs
"Recomeçar" é o nome de uma canção do Tim Bernardes e também é o início do refrão da canção "Reinventar" do Belo. Ambas abordam temas complexos e compartilham uma mesma verdade: fins são começos. É preciso deixar ir para poder receber. Quanto mais tentamos segurar algo, mais ele nos escapa. Ou viramos o ditador que por trás esconde um grande amor.
Porém é isso né? Separamos a vida em ciclos. Ou a vida já nos foi apresentada em ciclos. Mesmo os inventados por nós. Criança, Adulto, Idoso. Primavera, Verão, Outono, Inverno, Primavera. Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó. O curioso caso de Benjamim Button é uma criança nascer velha e morrer nova ou a similaridade entre algumas fases que parecem ser tão distantes uma da outra?
Li um artigo na The New Yorker essa semana intitulado: “Porque nós somos atormentados pelo futuro?” (Why are we tormented by the future) E logo no início o filho do autor sai com a palavra “fresent” que seria futuro-presente. Essa comunhão entre os dois tempos. E o autor discorre sobre a loucura que seria viver com a percepção concomitante dos dois tempos. E não é isso que chamamos de ansiedade? Uma avalanche de pensamentos futuros, preocupações com os problemas a chegar, com a dilatação do tempo quando experimentamos agora as questões de outrora. Esse artigo me conectou com uma palestra de um monge budista assistida na graduação. (MÁQUINA DO TEMPO) O asceta em sua fala explicitou como no ocidente não fazemos o que estamos fazendo. Escrevo a newsletter pensando na caminhada com minha esposa, caminho com minha esposa pensando no dia de trabalho, faço uma tarefa pensando na outra e assim sucessivamente. O que tem sido ainda mais agravado pela tecnologia existente hoje, que na época da minha graduação não era uma realidade (sim, i'm a 80's boy) o dispositivo móvel equipado com internet.
A tecnologia potencializou essa angústia. Não sou o Bruno Natal e esse aqui não é o Resumido, porém esse impacto é perceptível e ninguém acha que eu to maluco por dizer isso. O presente é sempre agora. O início de uma frase é passado para o final dela. Agora, agora, agora. Sempre é assim com o presente. Mas o “e agora?” que grita na nossa mente? Muitas vezes ressentimos a vida vivendo no passado. Mas muitas vezes abrimos mão da vida sonhando com o futuro. O presente apesar de ter uma curta extensão comparado com o passado e o futuro é o único tempo verbal que comporta a ação acontecendo - foi mal professores de português se falei besteira. Chegamos sempre naquela máxima deleuziana que é viver no acontecimento e não do acontecimento.
Ufa. Respira não pira e bora! Muitas perguntas, poucas respostas. Vamos nessa, 2025?
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.
Chico,
Adorei o texto e amei o conceito de FRESENT.
Ah, você chegou a ler o "Um exu em Nova York" da Cidinha da Silva? Se por um acaso este livro não caiu na sua mão, tem alguma coisa errada com o Orum...rs.