Batuque na cozinha sinhá não quer
Casos de racismo protagonizados por mulheres brancas na ultima semana
Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
“A sinhá disse que sabia que a criança não tinha culpa e que apenas comentara que a mãe nunca veria o filho, e era isso que ia acontecer. Mandou que os homens segurassem a Verenciana com toda a força, arrancou o lenço da cabeça dela, agarrou firme nos cabelos e enfiou a faca perto de um dos olhos. Enquanto o sangue espirrava longe, a sinhá dizia que olhos daquela cor, esverdeados, não combinavam com preto, e fazia a faca rasgar a carne até contornar por completo o olho, quando então enfiou os dedos por dentro do corte, agarrou a bola que formava o olho e puxou, deixando um buraco no lugar.” (Um defeito de Cor)

Semana passada fomos bombardeados por algumas imagens e eventos muito fortes. Porém, não são novidade. Nas redes e nos jornais pudemos ver o caso no qual o trabalhador Max Angelo foi agredido por Sandra Mathias em São Conrado. O ápice dessa agressão é quando ela chicoteia o entregador com uma guia do cachorro. Rememorando a história que a história não conta. O que tanto tenta ser escondido e esquecido por uns e é o dia a dia de outros. “Ela me tratou como se eu fosse escravo. Só que ela está esquecendo que o tempo da escravidão já acabou há muitos anos. E isso não pode acontecer. É inadmissível” disse Max.
Outra imagem forte da semana passada foi a briga (por assim dizer) entre os brothers Cezar Black e Bruna Griphão. Por assim dizer, pois na casa todos e todas podem expor o que pensam, mas alguns são recriminados pela fúria de Griphão. Não quero nem entrar no mérito do motivo da briga, que isso divide opiniões, no entanto acho necessário grifar (desculpem o trocadilho) a reação desmedida de Griphão com os participantes negros.
Nas três imagens apresentadas até aqui existe uma coisa em comum. Todas as três personagens estão sentadas nas suas razões. E por isso a fúria disparada sobre as vítimas é justificada. O comportamento de Sandra, Griphão e sinhá Ana Felipa conversam entre si.
Sabrina Fidalgo escreveu em um post no Instagram sobre “lembrar desse PODER conviventemente esquecível”. As relações de poder foram estabelecidas de maneira que quem detém o poder pode exercê-lo como lhe for conveniente. Para sinhá Ana Felipa foi dar um recado as escravizadas e ao marido. Para Sandra era limpar São Conrado dos favelados negros, nem que seja na chicotada. E pra Bruna é usar da sua explosão e depois do choro como forma de se mostrar combativa e sensível. Não importando o impacto que suas palavras tem frente ao outro. E usando de uma possível influência ao gritar com o participante que estava no paredão e com influência disso ou não foi eliminado.
Pra quem não se lembra, uns anos atrás uma mulher branca no Central Park em Nova York estava passeando com seu cachorro sem guia e ao ser sinalizada por um homem negro ligou para polícia e disse que o mesmo estava a perseguindo. Para muitos isso pode parecer besteira ou bobagem, porém nós sabemos o que significa ligar pra polícia e dizer que um homem negro está te perseguindo. Nós sabemos como um policial escuta isso e como isso pode soar para um homem negro seja lá quem ele for. Ainda mais nos EUA.
Esse poder exercido pelas mulheres brancas sobre corpos negros também é uma herança dos tempos da escravidão. Mais uma faceta do dispositivo do racismo e de alguma forma mascarado por discursos sobre opressão de gênero. E aqui, como disse lá em cima, acho que o assunto é complexo, porque não é sempre que uma mulher branca sinaliza algo a um homem negro e é racismo. Mas a pergunta é: e quando é? Com certeza essa temática tem muitas camadas, mas na sociedade como foi construída até hoje RAÇA e CLASSE precisam ter tanto lugar a mesa quanto GENERO. Da mesma forma que essas coisas não deveriam acontecer está conjugado no futuro do pretérito e não garante necessariamente a conclusão do verbo dever, esses fatos que ocorrem todos os dias estão no passado do presente e de mãos dadas com a impunidade seguimos reproduzindo o racismo nosso de cada dia.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.