Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Definitivamente estar vivo é uma onda. Assim como a crista é o ponto mais alto, o vale acaba sendo o ponto mais baixo da onda. O balanço do mar vem dos altos e baixos das ondulações, junto com correntes, vento e tudo que transforma essa experiência em algo transformador.
Normalmente quando estamos na crista não pensamos muito no vale. Mas definitivamente quando estamos nesse imaginamos como seria estar naquele. Quem está ou experimenta uma posição de vantagem nunca reflete sobre o ponto da desvantagem. Se o faz, logo é taxado de pessimista. Alguém que puxa pra baixo. Em busca do vale.
Não sou surfista, mas adoro pegar ondas. As vezes inventá-las se necessário. Mas acabo me identificando muito com o vale. Com estar por baixo, aqui no caso sem duplo sentido. É algo que não me programo, não desejo, não anseio. Mas definitivamente é algo que acontece. Porque tudo no mundo acontece, como diria o poeta Cartola. Não é uma questão de puro fatalismo, nem de falta de entendimento. É uma simples constatação. Todos os dias pássaros cantam, nós que nem sempre ouvimos.
Estar só é algo necessário. Se sentir bem consigo. Ser suficiente a si mesmo. Suficiente não no sentido de não precisar de nada, mas poder se bastar. Produzir solidão é se isolar. É não estar tão disponível para o outro num lugar sem tantas justificativas ou possibilidades. Estar um pouco abandonado de si e do laço com os outros. Esquecer dos nós ou dos laços que nos unem e apenas dar conta do que nos aparta.
Depois de curtir uma crista aqui, estive no vale. E confesso que estar no vale nem sempre é ruim. A vista da crista é ótima. Mas no vale a gente rema mais. Faz aquele esforço extra e ganha uma certa consciência de si. No final das contas o mais importante é lembrar o que disse outro poeta. Um mais jovem que Cartola, porém muito sábio também. “Não se queixe da falta do peixe. Não deixe o mar te engolir”.
Estamos de volta!
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.
Que bom que você voltou! Senti falta de te ler. Eu também sou mais conectada com o vale do que com a crista. Prefiro a solidão do que a multidão. Queria ter mais estratégias pra conseguir remar quando tô perdida no vale sem conseguir subir.
Muito bom, Chico. Descreveu vários momentos que já tive, às vezes a saudade do vale, e a busca do pico. Obrigado por estar de volta.