Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Hoje vai ao ar a grande final do Big Brother Brasil 23. Teremos uma final feminina composta por Bruna, Aline e Amanda (que eu precisei ver a foto para lembrar quem era). Porém, não tenho interesse em palpitar quem vencerá, obviamente prefiro que seja Aline, mas sim falar do massacre ocorrido na casa pela eliminação das pessoas pretas.
Desde o início do programa houve uma divisão entre dois grupos bem distintos. O quarto Fundo do Mar e o Deserto. Durante boa parte do jogo, os brothers do Fundo do Mar foram alvo do Deserto que tentava secar o oceano. Porém, um pouco depois da expulsão do Mc Guime e do Cara de Sapato, a coisa se reposicionou de uma maneira interessante. Com a volta de Larissa e Fred Nicácio o jogo teve uma vira-volta. Chegamos a ter uma maioria de brothers negros em sua multiplicidade de tons e foi expressa a vontade de um pódio negro.
Por pouco não foi show.
Diferente do Brasil, nos EUA o público não decide. E por lá na vigésima terceira edição, os estadunidenses tiveram o primeiro vencedor negro da história do programa. Os participantes negros formaram uma aliança chamada “Cookout” e combinaram que fariam de tudo para que um deles fosse o vencedor/vencedora. Eles fizeram amizade com participantes brancos e foram dissuadindo seus brancos de votarem nos outros participantes negros. Até que chegou o momento em que viraram maioria no programa, culminando com a vitória de Xavier Prather.
No Brasil, o público vota. No Brasil, o público decide. E uma narrativa com certeza tomou forma frente a todas outras possíveis. No último texto falei de Griphão e suas atitudes racistas. No dia que a global fez o escândalo com Cezar Black era véspera de paredão, no qual o brother foi eliminado. Criou-se uma série de narrativas que fizeram com que o Fundo do Mar secasse e tudo virasse deserto no BBB23. O mar virou sertão. Do décimo primeiro paredão até o décimo sexto, um por um os participantes negros foram sendo eliminados. Gabriel, Marvvila, Fred Nicácio (pela segunda vez), Cezar Black, Sarah Aline e por fim Domitila.
A quem vá dizer que o que houve foi uma mera coincidência e que Chico Canella vê racismo em tudo. Mas pra mim a única coincidência que houve é que no país onde 408.605 pessoas negras foram assassinadas na última década, que pessoas negras representam 77,6% das vítimas de homicídio doloso e são 84,1% dos mortos pela polícia e 70% dos policiais mortos, os participantes negros caíram um a um. Ah Chico, mas sobrou a Aline. Ela poderia ter sido eliminada e a final ter a Larissa também. Poderia, mas sempre existe a excessão que confirma a regra. Neusa Santos Souza fala disso: “negro quando sobe não fala de negro, ou em outras palavras: faz parte das estratégias de ascensão aceitar a mistificação constitutiva da ideologia da democracia racial: somos uma democracia racial, não existe problema negro, não há por que falar disso”. (Tornar-se Negro)
Independentemente do que acontecer hoje, a imagem que quero guardar dessa edição é essa:
Todos juntos, cada um em sua diferença, projetando e desejando outros futuros. Um futuro com menos racismo religioso, com mais respeito as diferenças e menos racismo. Deixo aqui a postagem do Jonathan Raymundo que fala lindamente dessa imagem.
Que vença a melhor?
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.