Olá! Eu sou o Chico Canella e essa é Um bom dia para uma boa semana! Uma newsletter quase semanal sobre temas quase cotidianos.
Voltando de São Paulo no domingo de carro com alguns amigos, num determinado momento entramos numa discussão sobre Chorão e Marcelo Camelo. Nos anos 2000 duas bandas faziam muito sucesso. Los Hermanos & Charlie Brown Jr. estavam nas paradas de sucesso e de alguma forma dividiam os fãs. Uma banda carioca composta pelo que, na época, acreditava-se ser uma certa vanguarda musical, com letras com palavras bonitas e emocionantes. Integrantes barbudos, um pré-indie brasileiro. A outra banda paulista composta por skatistas, com uma música mais urbana e uma atitude mais pulsante. Ambas com uma legião de fãs enorme. E também ambas vindas do underground.
Num determinado momento, um dos vocalistas do Los Hermanos começou a criticar o vocalista do CBJr. em todas as entrevistas que dava. E papo vai papo vem, num determinado momento eles se encontraram no aeroporto e o Chorão deu um soco na cara do Marcelo. Isso na época deu um bafafa danado.
Marcelo Camelo tem uma canção chamada De onde vem a calma que conta a trajetória solitária de um homem que busca de forma isolada ser rei de si. Uma aparência, cuja consistência se torna pouco palpável. Hoje de forma muito tranquila me perguntaria Pra onde vai a raiva? Todo mundo já assistiu Um dia de fúria, né? Um filme no qual o protagonista vai ficando com mais raiva até transformar tudo num caos. E pensando na masculinidade e na maneira como nossa sociedade é sustentada deveríamos nos perguntar mais vezes de onde vem e para onde vai a nossa raiva.
Semana passada, estava saindo de uma consulta médica no Centro do Rio, por um segundo antes de atravessar a rua mandei um audio para minha mãe (meus pais estavam voltando de Campinas e pegaram um transito infernal na Dutra) e conferi meu uber. No momento no qual coloquei o pé para atravessar a rua, uma moto veio da contramão (eu estava numa encruzilhada, laroye Exu) e o motoqueiro meteu a mão no meu celular. Acho que por conta do susto da chegada dele pela contramão, eu já estava tenso. Isso possibilitou que segurasse o telefone com uma força descomunal. O cara chegou a dar uma diminuída na moto e até pensei que fosse voltar para terminar o serviço, porém ele foi embora. Vitória, certo?
Ele tentou pegar, não conseguiu. Mas porque o que ficou foi só a raiva? Porque isso me corroeu por tantos dias? Pra completar dois dias depois fui para São Paulo de carro. E o que a gente mais vê é gente estourando vidro do carro para roubar o celular.
PS: Inclusive, o Skramm, que trabalha com a gente teve seu celular (instrumento de trabalho) roubado dessa forma no último domingo e está com uma vakinha para tentar reaver esse valor de alguma forma.
Minha cabeça ficou a mil. E muitas vezes a raiva nos toma dessa maneira. Todo mundo lembra da Raiva do Divertidamente. Fogo na cabeça, atitudes impensadas e consequências insanas. Mas e quando esse sentimento não toma caminho nenhum? Por isso, penso que mais importante do que saber de onde vem, é pra onde vai a tua raiva, sabe?
Durante muito tempo eu guardei a minha raiva. O que me fez pensar que existiriam dois tipos de pessoas. Os que como eu entornam pra dentro. E com isso vem muita azia, má digestão e um processamento longo e contínuo. E os que entornam pra fora. Bateu voltou, processou respondeu e aparentemente não tem muita sobra. Que inveja eu tinha dos Entorna pra Fora. Achava eles decididos, bem resolvidos. Mas conforme o tempo foi passando, entendi que não existe forma melhor ou pior e apenas a forma como lidamos.
Entendo que a raiva pode ser resultado de diversos acontecimentos. Uma decepção, uma agressão, um desacordo com algo. E entendo também que existem formas distintas de se resolver os problemas sem envolver a violência. O Chorão trocou uma ideia com o Camelo. Mas o Camelo seguiu falando pra todo mundo do CBJr e do Chorão. Até o momento no qual se trombaram e a mão do Chorão também trombou na cara dele.
Esse texto não é uma apologia a violência, mas sim uma pergunta genuína de pra onde nossa raiva vai? Depois que a gente chora, que a gente fica puto, que passa aquele primeiro furor, onde ela se encaixa? De verdade, não tenho uma resposta para isso. As vezes como um Thetan pode grudar no nosso corpo e nos fazer mal, ou ser descarregada num esporte ou até sublimada com a arte. Mas acredito que seja uma pergunta sempre muito importante de nos repetirmos. Nem que seja só para ficarmos atentos.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.