Olá! Eu sou o Chico Canella e essa é Um bom dia para uma boa semana! Uma newsletter quase semanal sobre temas quase cotidianos.
Ontem recebi um email de um amigo que me deixou muito em contato com o que tenho sentido recentemente. Ele me lembrou do filme A Chegada do Denis Villeneuve, diretor de diversos filmes que gosto muito, sobre como uma linguista pode ajudar na chegada de uma nave alienígena ao nosso planeta. Uma relação com essa nova linguagem e como ela transforma a percepção do tempo. Num determinado momento parece que o filme é sobre um recomeço da personagem, pós uma perda traumática, porém já é essa percepção do tempo atuando sobre nós. E num determinado momento, mesmo sabendo da finitude do que ela viverá, a personagem escolhe viver. É exatamente assim que me sinto agora. Mesmo tudo tendo sido muito devastador, se me perguntassem, viveria tudo novamente mesmo sabendo do desfecho. É claro que dentro de mim ficam operando as vozes apontando momentos nos quais algo poderia ser ligeiramente diferente. Tipo um De Volta para o Futuro, uma pequena mudança que não destrói o universo.
Porém mesmo diante da impossibilidade de mudanças, escolheria todas as vezes viver esses momentos. Porque o desfecho foi muito triste, mas o caminho foi muito lindo. Sou uma pessoa que acredita nos entres mais do que nos fins. E também sou o cara do fim é o começo. O caminho nos faz ser quem somos. O caminho nos dá a possibilidade de processar, decidir, experimentar, transformar. Lembro dos medos, das alegrias, dos planos. Muito medos. Morria de medo.
E isso me conecta com uma sensação muito forte. Os momentos tristes não são só tristes e os felizes não são só felizes. Existe uma interseção constante entre esses momentos. Claro que existem os picos, já falei muito de onda por aqui. Quando pegamos uma onda não ficamos só na crista dela. Transitamos entre vale e crista, isso nos possibilita fazer as manobras. Deslizando, descendo e subindo para pegar velocidade e fazer um aéreo ou qualquer outra manobra. Se pegamos uma lupa para analisar os momentos felizes de nossa vida, vamos enxergar a ausência de uma linearidade e talvez até uma ausência de padrão. Da mesma maneira acontece com os momentos tristes. Quem assistiu Divertidamente tá ligado nisso. A obsessão da Alegria em manter as memórias básicas alegres é o disparador dos eventos do filme e como isso quase bota tudo a perder.
Pra mim hoje, acreditar nisso é a única possibilidade. Porque se não acreditar nisso, não sei no que acreditar. E isso é a parte mais difícil de todas. A parte na qual dobramos a aposta pro futuro. Sei que em tempos de BETs falar em aposta é algo complicado, mas preciso apostar na vida. Acreditar na mudança e nas encruzilhadas apresentadas pra mim nos próximos capítulos da minha vida. Uma fonte de esperança, apesar de esperança não ser o melhor sentimento, mas também uma forma de ter certeza no futuro. Certeza de que não ando sozinho. Certeza de que existe muito amor na minha vida. Certeza de que “iremos achar o tom, um acorde com lindo som e fazer com que fique bom, outra vez, o nosso cantar”.
Enquanto isso o que me resta é confiar no processo. Respeitar meus limites. Torcer pra vida ser doce.
Se gostou do papo, compartilha com alguém que pode se identificar.
Lembrando que existe a possibilidade de ser um assinante aqui da news e ajudar a manter esse espaço ativo.