Olá! Eu sou o Chico Canella e essa é Um bom dia para uma boa semana! Uma newsletter quase semanal sobre temas quase cotidianos.
Venho pensando muito ultimamente sobre a minha marca no mundo. Como eu, enquanto um ser vivente nesse planeta, posso contribuir para que essa realidade possa ser um pouco diferente. E ai parece que entro num looping intenso no qual nada do que faço é bom o suficiente para preencher essa expectativa criada por mim mesmo em torno de algo que parece ser uma preocupação minha. E isso tem tudo a ver com um dilema a respeito da Produtividade x Criatividade.
Meu dilema, diferente desse maior, é um dilema de produtividade. Aparentemente preciso produzir algo que faça a diferença. E dessa forma, encaramos tudo como uma tarefa a ser executada de maneira que alcancemos algum objetivo estipulado por alguém. Não sabemos quem, nem o que, mas o quando é um grito uníssono: PRA ONTEM! Um exemplo maravilhoso disso são todos os hobbies que você já teve e que viraram empreendimentos, pois é necessário que as ideias e as atividades nas quais nos destacamos virem grana. Produtividade é algo que me grita: Cadê o texto dessa semana? Cadê o canal que você ia fazer? Cadê o faturamento da empresa? Cadê os pacientes novos? Cadê Cadê Cadê?
No início desse mês fui a São Paulo. Eu não ia a São Paulo desde setembro de 2023. Fiquei mais de um ano sem pisar na maior cidade do Brasil em termos de negócios, grana e produtividade. Fico pensando se essa minha greve de São Paulo tem a ver com uma certa abstinência escolhida de certos hábitos, lugares e pessoas. Talvez uma grande mágoa ou uma grande decepção. E foi ótimo estar lá. Tive encontros de qualidade. Conversas profundas. Conheci lugares novos. Revi pessoas queridas. E numa tarde caminhando para um café me deparei com um brechó e vi uma maquina de escrever Olivetti. Aquele modelo que vira uma maleta. E fiquei um tempo olhando pra ela. Pensei que era muito hipster da minha parte querer uma Olivetti a essa altura do campeonato. Mas ao mesmo tempo, por mais que tenha diversas plataformas de escrita dentro do computador, nos cadernos e até no celular, alguma força gravitacional me arrastava para ela. Como se houvessem coisas que só poderiam ser escritas naquela plataforma. O que me lembrou o concurso que meu pai foi reprovado na prova de datilografia. Ao contar essa história, ele narra o terror que foi entrar no ginásio e ouvir aquele som de máquinas datilografando. Ao mesmo tempo, que hoje é engraçado entrar num coworking e ouvir o silêncio de todos digitando.
Li um texto de uma moça fazendo propaganda de ferramentas de PKM (Personal Knowledge Management) e num determinado momento ela fala sobre os três momentos cruciais para a criatividade - Coletar, Conectar e Criar. Não que aqui vá entrar uma frase tipo Roube como um artista, mas coletar é basicamente absorver o que o ambiente pode te oferecer ou caçar o que te interessa. Mas aqui fica uma provocação feita pela autora: uma dieta que envolve um pouco de cada seria fundamental. A coleta de informações nos ajuda a entender o que vale caçar e este nos possibilita ir mais fundo na pesquisa. Conectar é criar coleções do que coletamos. E essas coleções são containers para trabalhos criativos. E criar é sintetizar todo o processo em algo novo. Durante esse processo, vamos estabelecendo limites para potencializar possíveis resultados. “A clareza, o direcionamento e os limites de um projeto bem definido são vitais para sustentar um alto nível de energia criativa”. A forma como limites podem ser importantes para nosso desenvolvimento.
Durante muito tempo achei que precisava impressionar e ter a atenção de algumas pessoas. Como se isso fosse validar quem sou ou o que posso ou não fazer. E esse tipo de pessoa existe muito por ai. Esse é aquele cara (normalmente é um cara) que acredita piamente na necessidade de você se provar interessante da atenção dele. E normalmente essa legitimação vem de fora das suas ações. Quando alguém que essa pessoa admira, te admira ou te exalta, ele finalmente pode te dar um espaço. E quando nós ficamos atrás desses tipos de legitimação acabamos “comprando” coisas das quais não precisamos para impressionar pessoas que não se importam. Essa necessidade de se transformar em outra coisa gera um esquecimento de quem somos. Ah mas quem é que sabe quem se é? Tá, é possível não saber e talvez a vida seja esse eterno descobrir, mas dentro de ti tem aquela criança e ela tem determinadas características e muitas vezes esquecemos dela.
Luis Antonio Simas numa entrevista recente disse: “O contrário da morte não é a vida. O contrário da morte é a lembrança. E o contrário da vida não é a morte. O contrário da vida é o esquecimento”. A necessidade da lembrança é presente em diversas culturas no culto dos ancestrais. Sejam os ritos fúnebres de matriz africana, na cultura mexicana (como é retratado no filme Viva - A Vida é uma Festa) ou em tantos outros. Pensando dessa forma já me matei de diversas formas, pois em diversos momentos esqueci de mim para privilegiar outrem. Apaguei-me para que outro pudesse brilhar. Soterrei minhas vontades em nome de produtividade. Calei minhas ideias por me achar um impostor. E como hoje ainda há luta para sentar e colocar meus pensamentos no “papel” e publicar.
A produtividade me convida a um lugar muitas vezes necessário para gerar renda, complementar minha desatenção e manter um certo compromisso. A criatividade me permite lembrar da potência que sou e a que quero ser. Sempre honrando quem fui e buscando ser alguém que almejo ser. Prefiro viver em: “Uma cultura que acredita que é melhor pedir perdão depois, em vez de permissão antes, que recompensa as pessoas pelo sucesso, mas lhes dá permissão para falhar”. E dessa forma crescer-sendo e não se encolher de medo.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.