Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Esse texto é talvez o mais pessoal que já escrevi aqui até hoje. Não quero converter ninguém a minha religião. Porém é um convite a cada um pensar a sua fé e no que temos fé.
Minha criação sempre foi respaldada no cristianismo. Minha família é espírita e minha infância foi toda dentro da casa espírita junto a outras crianças. A força do grupo de jovens, a identificação com os outros, ajudou muito na construção da minha subjetividade, construiu relações que tenho até hoje e pavimentou um caminho de cuidados comigo. Nessa época sentia alguma dificuldade de falar com Deus. Por questões estruturais, sentia um pouco de distancia entre mim e ele. Mais uma vez, experiencia própria sem desmerecer religião ou relações pessoais com as religiões.
Depois de chegar a idade adulta me afastei bastante disso tudo e me lancei no mundo e de alguma forma perdi essa conexão. E durante algum tempo vaguei por ai meio sem destino. E tudo isso tem muito a ver em como me sentia quando estava comigo. Comigo nem sempre era forte, nem sempre sabia de tudo, nem sempre.
Depois de vagar, devagar fui me aconchegando numa ideia. Divaguei sobre algumas questões e resolvi buscar um caminho que a princípio parecia ser diferente de tudo. Parecia inédito, parecia novidade. Busquei uma casa de Candomblé e fui para o meu primeiro jogo de búzios. Ouvi que tinha caminho com o Santo e que deveria frenquentar. Cheguei lá tendo sonhos persecutórios, noites sem dormir bem. E depois dos primeiros trabalhos, dormi como uma criança. Sem medo de ser feliz.
Fui aprendendo com os mais velhos sobre a nossa relação com a divindade. Como ela é aqui e agora. Como ela se faz presente em ato e como são deuses da imanência e não da transcendência. Descobri que nada do que vivi era inédito e que minha família tinha história junto a religião. A família da minha mãe quase toda fora ligada ao Candomblé ou a Umbanda. E as divindades estavam presentes desde sempre.
Aprendi que rezar é vibrar. Vibrar numa frequência que intenciona o nosso melhor (e aqui quero sempre acreditar no melhor) para algo ou alguma coisa. Que quando estou na mata, no mar, na cachoeira, estou em território sagrado. As divindades são energias presentes nesses lugares. Então o respeito, o carinho e a humildade são necessários em todos os momentos para reconhecer sempre o que é maior do que eu. Rezar é conectar, reconhecer, reconstruir, imaginar, é processo.
Como filho de Xangô ogã confirmado por Gbessém, tenho hoje uma conexão muito forte com a reza, o rezar e com o divino. A presença das divindades na minha vida são muito mais fortes, pois reconheço em cada espaço que habito o divino. E admiro muito as pessoas ao meu redor que encontram isso nas suas religiões. Sigo respeitando a religião de meus pais, a do meu irmão e dos meus amigos. Todas diferentes umas entre as outras e da minha também.
Acredito que a religião proporcione essa coletivização das responsabilidades que temos para conosco. E que muitas vezes é necessário pensar em mim em relação aos espaços que habito e que convivo. Isso aumenta a nossa relação com a gente, assim como nossa relação com o outro em todas as suas formas.
Bom é isso. Separei algumas fotos para ilustrar esse post. Uma da minha confirmação junto com minha família (meus pais espíritas e minha avó católica), uma da minha família espiritual, uma da minha família que também não deixa de ser espiritual além de carnal, uma tocando num candomblé e por último essa na prova de 21km da Maratona do Rio já que é muito importante sermos macumbeiros em todos os lugares.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.
Adorei seu relato sobre religião, seus textos sempre me agregam de alguma maneira.