Olá! Hoje começo diferente, pois tudo está diferente.
Sempre quis escrever uma ficção sobre meu bisavô. Nilo Canella, natural de Araruama, filho de uma escravizada liberta com um fazendeiro da região. Pai de nove, avô de muitos, calafate e comunista. Nunca encontrei o tom para deixar a quantidade de ficção adentrar nesse fato histórico e dar o tom que queria para essa homenagem.
Mas hoje me vejo despedaçado e pensando que reside só na ficção os encontros com meu filho. Meu filho que desejei, aguardei e amei, junto a minha companheira e nossa filha. Uma criança especial e que transformou a forma como vejo e entendo o mundo. E acredito que vai seguir transformando na medida em que essa dor puder dar espaço para outros sentimentos. Essa perda me fez pensar no que temos dado valor enquanto seres humanos, como deixamos coisas bobas e pequenas tomarem a frente e o controle de nossas vidas, como estamos colocando os esforços nos lugares errados. Não costumo ser tão categórico a respeito de certo e errado. No entanto, há sim algo de errado em nós e no mundo.
Porém, tenho um compromisso com ele agora. Um compromisso de transformar toda essa tristeza, saudade e desejo de viver tantos momentos juntos em felicidade. Longe de mim estar tentando ver o lado bom dessa situação. Não existe. Não tem. Mas existe tudo que vivemos nesses últimos 6 meses. Desde a descoberta, o medo, as incertezas, depois um amor sem precedentes, uma vontade de ver ele todo cagado com uma fralda vazada, fazendo pirraça num shopping porque quer sorvete, me chamando de chato. Primeiro choro, primeiro passo, primeiro erro. Tudo isso só acontece agora na ficção. A única coisa que não é ficcional nessa história é o amor. E por isso tenho certeza que seremos felizes.
Não sei como esse espaço vai ser daqui pra frente. Sei que é bom construir coisas e espaços para dividir coisas nos espaços.