Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Com a estréia da terceira temporada de Ted Lasso, retomei algumas ideias que havia esboçado sobre a série quando maratonei as duas primeiras. Ted Lasso (Jason Sudeikis) é uma série de comédia (?!?!) da Apple TV+ que conta a história de um técnico de futebol americano contratado para treinar um time de futebol não-americano na Inglaterra. Entre a inexperiência com o esporte, uma chefe magoada e toda a tensão entre jogadores, comissão, torcedores e mídia, Ted apresenta uma positividade, as vezes (quase sempre) irritante. E um esforço descomunal para cativar as pessoas. E nessa tarefa consegue até obter sucesso. Mas o treinador reprime alguns sentimentos, o que me faz pensar muito num padrão performado pela masculinidade. A do homem debruçado no olhar do outro e que ignora o olhar sobre-si.
Ted sempre está disponível para o outro, sempre tem uma palavra de consolo, sempre pode se desdobrar em muitos para atender ao chamado. E isso parece ser muito diferente do que entendemos como características da masculinidade. Apesar do seu bigode cheio, os traços da virilidade, a ocupação do espaço, a forma como engaja em conversas são muito peculiares dele, que seria quase um democrata-macho (a versão estadunidense do esquerdo-macho). E é ai que a coisa pode se complicar. Por muitas vezes, viver as questões do outro é a forma mais simples de ignorar as suas. Como, por exemplo, ter sempre bons conselhos, mas nunca segui-los.
Diferente de Carmy, (falo de The Bear aqui) cujo silêncio leva a uma explosão, Ted compartilha superfícies e seu silêncio leva a implosão. Carmy silencia, Ted não-diz. E não o diz nem pra ele mesmo. E esse não-dito vira a bola de neve que dispara a avalanche que vai soterra-lo. As crises de pânico, os momentos de total abandono de si e a necessidade de buscar formas de distração são alguns efeitos. (Lembrando que ele é um personagem ficcional e nada disso é escrito em pedra, são reflexões) <3
A série traz um alerta para os cuidados com a saúde mental e física de forma real e comprometida. O elenco esteve na Casa Branca para falar sobre o tema e na segunda temporada a presença de uma profissional dessa área como uma das personagens principais dá um tom muito caloroso para essa conversa. Sharon (Sarah Niles) traz a oportunidade de Ted olhar para o seu buraco e jogar alguma luz sobre ele. Todo temos nossos buracos. E muitos acabamos ficando neles e achando que eles não são o que na verdade são: Buracos. Apesar de ser um grande fã dos estudos da subjetividade, nesses momentos um pouco de objetividade sempre pode ajudar. E Sharon traz isso para Ted.
A terceira temporada promete muito. E acredito que a série, de forma até descontraída, traz temas necessários para a reflexão. Mostra o frágil da masculinidade, a mágoa da masculinidade e as dificuldades de construir mesmo no que “desconstruiu” uma (re)construção rumando para novas possibilidades.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.