The Bear e a falta da comunicação.
Como a série da FX mostra de forma brilhante (por assim dizer) o retrato da masculinidade arruinada.
Fala galera, tudo bem? Estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Como anunciado na semana passada, hoje vamos falar um pouco sobre The Bear ou O Urso.
Sem dar muitos spoilers a série é sobre Carmen "Carmy" Berzatto (Jeremy Allen White), um renomado chef de cozinha que após a morte trágica de seu irmão Michael (Jon Bernthal) assume o restaurante da família The Beef. Michael administrava o restaurante de forma irresponsável junto com seu amigo Richard "Richie" Jerimovich (Ebon Moss-Bachrach). Carmy então se vê em meio a uma cozinha caótica e sem método, um restaurante afundado em dívidas e tendo que lidar com o fato de seu irmão ter se suicidado. Parece muito, né?
A série tem no tempo dos seus episódios um caráter de urgência. O relógio é muito presente em planos e junto ao tic-tac temos sempre algum imprevisto deixando o clima sempre mais tenso. Aquela sensação de sem saída. Meio uma pegada do capitalismo, meio da masculinidade ou desses ambientes nos quais figuras autoritárias tem destaque. Aqueles piques da representação do PAI meio Totem e Tabu, meio Freud, meio burguês, meio ocidental…
Das coisas que mais me chamam a atenção nessa série é o quanto se dá para não falar se comunicando muito. Na organização criada na cozinha a comunicação se dá o tempo todo. A todo momento alguém está comunicando algo. Mas pouco está sendo dito entre as pessoas. Por mais que elas emitam a mensagem, muito se perde no percurso. É mais ou menos como acontece aqui. Entre a ideia para o texto e o texto-em-si, muito é perdido. Seja por devaneios, por vontades de ampliar as possibilidade ou só pela incapacidade de materializar em palavras meus sentimentos. E esse é o item de série mais difícil de se ter num homem.
Tanto Carmy, retraído, caladão, obstinado que virou o chef do melhor restaurante de Nova York porque seu irmão não o convidou para trabalhar no The Beef, quanto Richie, babaca, machão, grosso, contador de vantagem que não recebeu o reconhecimento do amigo por seu trabalho no restaurante, são dois exemplos clássicos disso. Ambos padecem do mesmo mal. E por mais que quando você estude roteiros te ensinem que é necessário deixar os personagens sem saída até ter a saída, isso não deixa de ser mais a arte imitando a vida do que uma fórmula de Hollywood.
Esse texto foi meio Frankenstein porque seria o primeiro texto do ano, ai depois o segundo e agora foi atropelado pelo carnaval. Mas acredito que esse é o primeiro de alguns que virão por aí. Tem The Last of Us, tem Ted Lasso e tem muito personagem masculino nos ensinando como o homem é massa de manobra para algo muito maior que ele individualmente.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essas ideias. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desses papos.
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