Não tem como começar essa news sem ressaltar a necessidade de nos mobilizarmos e seguir mobilizados para ajudar as pessoas que estão assoladas por essa tragédia no Rio Grande do Sul. Procurem fontes seguras, confiáveis de pessoas que estejam no corre para ajudar e não pense que você tem pouco a oferecer, pois pra quem perde tudo, qualquer peça de roupa, qualquer refeição ou material de higiene básico fará toda diferença. Minha indicação é o Will Ortiz (pix: william.ortiz@gmail.com). Ele está arrecadando doações em Copacabana no Rio de Janeiro ou a partir de doações comprando os itens necessários! Vamos ajudar!
Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Vale ressaltar que esse texto é meio fragmentado. Comecei a escrevê-lo tentando fazer uma piada com Comer, Rezar e Amar. Iria ser Correr, Rezar e Nadar. Mas agora virou só Correr e terão o Rezar e Nadar, mas talvez não em sequência.
Nunca pensei que estaria fazendo uma newsletter. Dentro de todas as facetas da minha Barbie Profissões, escrevedor nunca foi uma das opções. E de repente, aqui estou. E de todos os temas que acredito ter embasamento para escrever me surpreende estar tão apto para escrever sobre corrida. Óbvio que não da parte técnica. Pra isso procure profissionais de educação física, não blogueiros de redes sociais.
A corrida chegou na minha vida via meu pai. Chico Pai sempre andou e correu como opção de exercício físico na vida dele. Fico pensando como é possível ele nunca ter participado ou animado participar de uma prova de corrida. Porém conhecendo-o consigo entender. Porém dentro de um projeto de mudança de hábitos, conheci o Thi da ThiSquad. E aí tudo deu uma guinada diferenciada.
Como bípedes privilegiados transformaram uma forma de locomoção em uma das práticas mais populares que conhecemos? Ia escrever esporte, mas a corrida está longe de ser só esporte. Apesar do meu treinador sempre me chamar de atleta e eu chamá-lo de treinador. Independentemente de qualquer coisa, correr é um refúgio. Não é como se nossos problemas acabassem, nem como se tudo se dissolvesse, mas assim como a vista eles vão passando. Diferente da imagem de um engarrafamento ou de um bloqueio de estrada, por exemplo. Nesse momento é muito importante entendermos esse fluir. Esse lugar no qual a paisagem passa e não tentamos prendê-la. Por exemplo, na praia de Copacabana os prédios dos hotéis Hilton e o Othon são duas referências importantes, se foco neles fico mais obcecado, quando imagino-os como parte da paisagem, passo e nem percebo.
Uma das coisas mais interessantes na corrida é sustentação. Da hora que começamos o aquecimento, seja qual for a rodagem, até o fim sustentamos. A sustentação necessária para a corrida acontecer, - seja a física adquirida no treino, fortalecimento, herdada geneticamente ou não, seja a mental, toda a estrutura que precisamos criar, vizualizações, âncoras, ou enfrentar ansiedade, desânimo e até mesmo depressão, etc. - é fantástica e muito inspiradora. Sendo assim, estamos atentos a todos os ritmos que entram em consonância e os fluxos que nos perpassam. Tudo isso me encanta. É um transe acordado. É o Flow1!
Esse estado de transe não é um apagão ou estar possuído pelo ritmo ragatanga. É um tipo de concentração desfocada. É um meio do caminho entre habilidade e desafio. É estar presente, mesmo parecendo uma ausência. É estar NO acontecimento e não vivendo DO acontecimento. O Flow só acontece no presente.
Pra mim, a sensação parece quando corro sem óculos. Dentro da minha realidade astigmatística, estar sem os óculos de grau é uma experiência de descolamento. Como se as imagens se misturassem entre o que vejo e o que são. Lembra um movimento de câmera acelerado. Mas tudo isso só é possível se estiver presente. Os budistas falam que no Ocidente nunca fazemos o que estamos fazendo. Tomamos café pensando em que horas vamos chegar ao trabalho. Trabalhamos pensando na conta que vamos pagar. Pagamos a conta pensando no almoço. Almoçamos pensando no date que teremos mais tarde. Temos o date pensando em transar. Transamos pensando em o que vamos fazer amanhã. E assim segue. Essa conexão tão forte com o futuro, gera ansiedade. Na corrida não dá pra se prender muito no futuro, se não a gente quebra.
A corrida de rua, a das pistas que me perdoe, tem um charme a mais. Me lembra o movimento de uma certa errância, quase que um flâneur2. Alguns grupos saem juntos de um determinado ponto e precisam chegar em outro. Como cada um tem sua velocidade, seu pace3, nem sempre todos seguem o mesmo caminho. E ai que a coisa fica interessante. Porque por mais que pareça ser sobre o destino, é sobre o caminho. Este fará toda diferença para cada um. O dia da prova alvo é de celebração de todo um ciclo que pra maioria do mundo é invisível. Quilômetros e mais quilômetros percorridos para naquele dia celebrar junto a tantos outros corredores. Uma mistura de êxtase, alegria, felicidade. Um momento de plenitude.
Como já disse uma vez, pra mim, a corrida não é só sobre superação dos nossos limites e ir mais, é também sobre a sustentação do nosso corpo num deslocamento que desafia nosso entendimento. Não é só sobre sair da zona de conforto, mas construir outras zonas que permitem encontrar outras facetas nossas. Um multi-verso de mim. Dentro de um ato, diversas possibilidades simultâneas. Dentro de uma prática, diversos caminhos possíveis. E é isso que mais me encanta na corrida. Sou um atleta amador e esse é um relato do tanto que a corrida me ensinou em tão pouco tempo.
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.
O flow não é exclusividade da corrida, nem do esporte em si. Muitas pessoas entram nesse estado de diversas maneiras.
Flâneur (pronunciada(o) [flɑnœʁ]), do substantivo francês flâneur, significa "errante", "vadio", "caminhante" ou "observador".
O pace de corrida se refere à velocidade média em que um corredor percorre uma determinada distância. Ele é frequentemente medido em minutos por quilômetro (min/km).
Muito bom!
adorando essa faceta corredor-escrevedor, Chico. <3