Eu sou o Chico Canella e estamos aqui em mais Um bom dia para uma boa semana.
Você já teve a sensação de que tá tudo bem e tudo se despedaçando ao mesmo tempo? Ou algo que você deseja muito começa a acontecer e a certeza do fracasso vem junto? No ano passado escrevi o texto sobre o Antônio Carlos, o Mussum, e muita gente leu. Depois dele fiquei seis meses sem conseguir escrever. Durante muito tempo chamei isso de auto-sabotagem, mas algumas coisas levam a crer que não é isso.
O texto dessa semana vai ser um pouquinho mais pessoal que de costume, semana que vem voltaremos a programação normal (ou não).
Durante muito tempo, por influência da psicanalise, acreditei que o sujeito sim pode querer o seu próprio mal. Isso se dá devido a uma mudança (to sendo bem raso aqui) de paradigma dentro da teoria freudiana conhecida como segunda tópica. O criador da psicanálise troca da lógica: pré-consciente, consciente, inconsciente para eu, supereu e isso (conhecidos também como ego, superego e id). O supereu (que o corretou corrige pra superei) é a polícia do aparelho psíquico. Autoritário, castrador, até abusador em relação ao eu.
Associo essa polícia psíquica a muitos fatores. E durante muito tempo achei que realmente era possível ser algoz e vítima dos meus próprios boicotes. Mas e se todas essas questões sobre o eu não fossem necessariamente minhas? Porque rapidamente nos responsabilizamos por falhas, medos e fracassos de bate-pronto? Um fato curioso: A Psicanálise “funciona melhor” em países nos quais a religião católica é a predominante. A culpa (e a culpabilização) acaba(m) sendo uma das marcas em comum entre a prática e a religião.
As imposições do capitalismo, as desigualdades de gênero, raça e social são apenas alguns dos problemas sobre eu. Pressões existentes antes do nosso nascimento que vão se manter depois da nossa morte. Padrões impostos para não serem alcançados. Uma necessidade de performar mais do que é esperado sempre. Metas de metas de metas a serem alcançadas e batidas.
É engraçado falar sobre isso hoje, pois nessa semana estive bem pensativo em relação aos meus sucessos. Como é simples hoje aparentar um case de sucesso e estar entulhado de questões até o fim da sua alma. Questões em relação a sua imagem corporal. Atualmente tenho o menor peso que tive nos últimos quinze anos. Estou comprometido com atividades físicas regulares, malho, corro, nado, fico querendo fazer boxe, jiu-jitsu, correr maratona, ser rei do mar, porém se um dia não acordo cedo parece que jogo no lixo todo esse comprometimento.
Conversando com minha amiga Maíra Blasi sobre uma participação que fiz no curso dela lembrei do que minha terapeuta me falou na segunda, vulgo anteontem: “Francisco, você precisa acreditar mais em você”. E acredito que acreditar nesse sentido seja dar pra mim o que consigo facilmente dar ao outro. O oposto do que nos ensinou Sócrates via Foucault. Cuidar de si é cuidar dos outros. Meu trabalho de final de curso na psicologia foi sobre cuidado. Acho que preciso revisitar esse texto.
Se todos os caminhos levam para o mesmo lugar (a morte) prefiro os caminhos que tenham coração. Encontra-los nem sempre é simples. Mas a gente continua tentando, né?
Caso vocês gostem das discussões aqui levantadas e tenham vontade de responder, realmente estou aqui para trocar essa ideia. Além disso, se gostarem do conteúdo, indiquem para amigos que vocês acreditam que se beneficiarão desse papo.
Cara realmente esse posto me fez pensar em muito coisa, vejo o quanto de peso a gente carrega e o quanto que parte dele vem de cresças construídas não por mim mas por outros, vi isso acabar com meu casamento, vi isso prejudicar minha relação com meus filhos e a tomada de várias decisões erradas com base em valores e crenças que não são minhas mas que julgava ser... Agradeço demais por compartilhar isso, e bom quando compartilhamos aquilo que "não está tudo bem"
Adorei o texto mais pessoal! Não entendo nada de psicanálise mas também fico pensando que essa "auto-sabotagem" se aprende. Eu aprendi a minha em família, nos inúmeros filmes retratando mulheres negras sendo exploradas e desumanizadas, no dia-a-dia da sociedade brasileira. Diante da pressão de ter uma rotina ultradisciplinada e uma vida ultraprodutiva tento ter como principal meta me cuidar pra não enlouquecer.